Eu preciso te esquecer

Há meses atrás uma amiga, amiga muito especial, tipo que não se pode negar um pedido me fez uma solicitação, que eu escrevesse um texto abordando esse tema: eu preciso te esquecer.

Eu disse que faria, e fui enrolando... Enrolando... Feito a Rapunzel quando enrolava seus cabelos na esperança que um dia alguém desenrolasse. E abri uma página no Word com o título e salvei prometendo a mim mesma que quando chegasse a vez de abordar esse assunto eu o faria, pois seria a hora exata de o escrever.

E hoje o dia chegou.

Quando precisamos esquecer algo ou alguém é porque essa coisa ou pessoa não nos está fazendo bem. Quando precisamos esquecer é porque a ausência seria menos maléfica que a presença, ou pior ainda, a falta é razão suficiente para apagar tal coisa ou pessoa da nossa memória.

Na verdade nosso coração não é um computador que formatamos quando chega a hora, está desatualizado ou com algum problema. Dias atrás meu filho me disse: - Mãe, quer instalar o novo Windows? Quando eu respondi que sim ele falou: - Salva seus documentos que faço isso.

Nessa hora pensei nas coisas que ali estavam e nem mais me eram necessárias e salvei apenas as que eu queria. Fácil não considerar o que não me faria falta nesse novo sistema operacional, mas meu coração ou o seu coração não pode ser transplantado assim tão facilmente, e mesmo que fosse ainda restaria o meu e o seu cérebro, lugar onde guardamos todas nossas atitudes, experiências de vida, amores, dessabores, perdas, enfim todos os momentos da nossa existência humana.

Porém, chega a hora que a razão insisti em dar ordens ao nosso coração, é a hora que decidimos esquecer, refletimos e tomamos a decisão de parar de sofrer por alguma coisa ou por alguém e ponto. Nesse momento tentamos nos ocupar com outras coisas, geralmente utilizamos o trabalho, nos afundamos nisso, dedicamos horas e horas trabalhando em algo que nos faça melhor, que nos tire daquele estagio de sofrimento. E conseguimos algum êxito se o que desejamos esquecer também quer o mesmo.

Nem sempre quando optamos por esquecer algo significa falta de amor ou necessidade, muitas vezes significa liberdade. Manter-se presa numa situação por dias, meses ou anos nos envelhece, apaga nosso brilho interior e fere nossa alma, trazendo uma espécie de torpor. O sorriso parece lindo, mas na verdade é falso, a aparência parece saudável, mas é maquiagem que arrancamos quando estamos sozinhas.

Precisar esquecer alguém é um sinal claro que algo falta e a exclusão disso na nossa vida é necessidade de continuar vivendo.

Se tudo foi feito, se tudo foi falado e mesmo assim ainda necessitamos nos distanciar é sinal que o outro não ouviu, ou não compreendeu o que estava acontecendo.

Precisamos seguir em frente sempre, mesmo que o sorriso não seja tão largo, mesmo que o brilho no olhar não seja tão iluminado, mesmo que não tenha a felicidade plena que tanto queria. E precisamos de um tempo para isso, um tempo para pensar só, um tempo para não tocar mais nesse assunto que tanto nos fere, um tempo para esquecer.

Que esse tempo não seja muito longo, que seja abreviado pelas surpresas que a vida ainda pode nos oferecer, que seja apenas o tempo necessário para podermos esquecer.

Sara Mel

08/06/2014