O
que eu adoro em tua natureza,
Não
é o profundo instinto maternal
Em
teu flanco aberto como uma ferida
Nem
a tua pureza, nem a tua impureza.
O
que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O
que eu adoro em ti, é a vida.
(Madrigal Melancólico, Manuel
Bandeira)
O que eu adoro em tua natureza
é tudo o que você transmite quando está normal, casual. O fato de simplesmente
ser você, sem fingimentos, sem jogos, sem fantasias e mascaras, sem imitações
alheias. O que eu adoro em você é essa tua natureza simplificada, vertente tua,
natural e singular.
Não é o profundo instinto
maternal ou paternal, não é as atribuições diárias adquiridas nesse
relacionamento de anos, não é as obrigações diárias que a vida nos impôs, o que
adoro em você é seu instinto amável, carinhoso, cuidadoso. Esse mesmo instinto
que me levou até você sem que eu pudesse impedir.
Em teu flanco aberto como uma
ferida que lastima-me e tortura-me por imaginar que talvez essas feridas tenham
sido produzidas por mim. Produzidas por minhas imprudências, por minhas
mentiras, por minhas promessas não cumpridas. Teu flanco que é metade meu,
metade dor, metade de mim mesma.
Nem a tua pureza, nem a tua
impureza de nada mais importa, não importa tais explicações, tais divagações se
o mais importante não é o que parece ser e sim o que verdadeiramente você é
comigo. As circunstancias puras ou impuras nos trouxeram até aqui, mas a
determinação de continuarmos juntos deve ser límpida.
O que eu adoro em ti –
lastima-me e consola-me, pois somos feridos e curados, somos companheiros e
solitários, somos íntimos e estranhos, nessa ciranda que nos envolvemos e não
conseguimos sair.
O que eu adoro em ti, é a
vida.
Vida que traduz o amor que
sinto por ti.
Jussara Melo
Escrito em 05/01/2013
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