E a memória de tudo
desmanchará suas dunas desertas, e em navios novos homens eternos navegarão. (Cecília
Meireles)
Antigamente
ouvíamos as pessoas dizendo que ficavam até cansadas com tanto tempo
disponível, elas não tinham muitas coisas a fazer, geralmente despertavam muito
cedo, faziam suas tarefas diárias, almoçavam e jantavam em família e dormiam
quase sempre logo ao anoitecer.
Hoje, o
que ouço é o contrário, o tempo não é suficiente para realizar todas as
atividades diárias, permanecemos por horas no trabalho, depois nos transportes
públicos insuficientes para atender a população cada vez mais agitada e
estressada, quando chegamos em casa nos desdobramos em deixar tudo organizado
para atender à família, dormimos com aquela sensação que deixamos alguma coisa
por fazer, com a sensação de que a vida está escorrendo por nossas mãos, e não
sabemos o que fazer para frear esse carro enlouquecido que chamamos de tempo.
Uma
coisa é certa, o tempo não passa igual para todo mundo. E também não passa da
mesma forma todos os dias.
Quando
estou feliz, entusiasmada com algo, satisfeita saboreando o momento sinto que o
tempo voa, me parece que é como as asas de um beija-flor que velozmente se move
e eu não consigo controlar a sensação de que poderia ter durado muito mais, mas
infelizmente não dura, ele é algo que sei que devo saborear o mais rápido
possível, antes que acabe e não me pertença mais.
Você já
sentiu isso alguma vez? Eu já senti muitas vezes.
O
contrário também acontece... Ano passado, por exemplo, por muitas vezes me vi
em situações extremas de tristeza que duraram muito mais tempo que eu quisesse
suportar, muitas vezes essas situações que nos afligem duram um tempo
cronológico e psicológico insuportáveis, pois ao contrário do bater das asas
esse tempo é como aquele conta gotas que temos em casa e que sabemos que de
dentro daquele frasco o que sai é um remédio amargo e que devemos digerir pouco
a pouco. Felizmente esses momentos, para nós intermináveis, também não duram
para sempre.
Os dois
tempos, podem estar gravados na nossa memória, a pergunta é:
Quanto
tempo mais você vai permitir que essas histórias que já passaram permaneçam em
você?
Assim
como dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço, o passado e o presente também
não.
Relembrar
é muito saudável, ver fotos, vídeos de momentos que fizeram parte das nossas
vidas, curto muito isso também. Só não dá para tentar uma reprise o tempo todo.
Estou trabalhando incansavelmente nisso e garanto que ganhei muito mais tempo
que perdi.
Hoje,
tento construir novas coisas, aprender novas formas de passar o tempo. Entrar
por exemplo num curso de canto... E um professor me
garantiu que todo mundo pode sim conseguir cantar, que existem técnicas para
isso, que não é apenas um dom e sim perseverança. Eu acreditei feliz, claro.
E no
amor? Ah... A regra é a mesma, quando estamos com alguém que amamos, os ponteiros
dos minutos se movem como segundos, e a gente pensa que o tal do tempo nem
colabora com a nossa felicidade.
Como
driblar isso?
Acredito
que só há uma forma... Organizar as tarefas, delimitar o uso na internet,
reservar uns três dias para atividades físicas, tempo para leitura, aulas de canto, igreja, até tempo para o animal de estimação deve ser reservado, pois
eles sentem muito nossa falta. Uma vez por semana organizar suas coisas, para
não passar minutos preciosos procurando algo perdido nos armários. E algo
também muito importante é um tempo para estar com as pessoas que amamos.
No
inicio teremos a sensação de não dar certo, mas depois com o tempo vemos o
ganho nisso. Claro que, sempre haverá lugar para o imprevisto. É nele que mora
a beleza da vida afinal.
Jussara Melo
Escrito em 16/02/2013
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